31/12/2009

São Silvestre

Adorei este meu natal. Correu tudo lindamente, cansativo é certo, mas adorei. O Biscoito foi comigo à missa e - surpresa - foi ele quem parou no miradouro a dizer ohh que lindo antes de entrarmos na igreja. Portou-se o melhor possível, fora uma ou outra indiscrição e diversos comentários ao coro dos meninos a cantar. Ele não sabia as letras e ficou chateado. Adorámos o menino Jesus e aquecemo-nos no lenho. Viu o Pai Natal entrar numa casa e ficou histérico. Recebeu tudo o que quis e o Outro Biscoito também. Domingo dormiram os dois o dia todo. Estavam exaustos.
Hoje vou tentar comprar tudo o que precisamos para jantares e almoços e vou passar a meia noite em frente à fogueira. Se tudo correr bem, até bebo espumante e acordo no primeiro dia do ano com um café ao lado.

Até agora tenho uma resolução de ano novo: abrir presentes no dia de reis. Este ano o espírito de natal invadiu-nos mesmo e achámos melhor assim. O natal dos miúdos teria corrido bem na mesma sem presentes, todos juntos envoltos num pozinho de perlimpimpim  que deixava tudo a brilhar. O sorriso na cara dos meus filhos não tem preço. Bom ano.

23/12/2009

Coisas de mãe e filho

O meu Natal começa amanhã. Vai correr tudo bem. Vou deixar a roupa dos miúdos já pronta para o pai os vestir a preceito. Vou saír mais cedo do trabalho e vou para casa passear o cão. Vou ligar à minha sogra a perguntar pelos miúdos, se passaram todos bem e dizer-lhe que estou a arranjar-me mas que já irei ter com ela e que não me esqueço de levar as couves para a consoada. Vou fumar um cigarro e vou voltar para casa onde vou tomar um banho decente e pouco amigo do ambiente, arranjar as unhas e pentear o cabelo. Vou vestir roupa lavada e maquilhar-me, talvez até pinte os lábios. Eu, o cão, as couves e os presentes vamos subir rua acima e chegar a casa da minha sogra, pôr o avental e começar a fritar rabanadas, se é que a a santa senhora não deixou já tudo preparado de vépera. Iremos falar de banalidades e ela vai de certeza absoluta perguntar-me se o meu marido irá à missa. Claro que não, há-de ficar em casa com a desculpa dos miúdos, mas o mais velho, se não estiver a dormir, irá comigo e com ela beijar os pés do menino jesus. Vou fazer um esforço enorme para não adormecer antes do jantar e juro que hei-de comer uma tijela de arroz-doce sem fazer caretas. Vou bendizer a missa do galo, que bom que será sair à rua para apanhar ar e ver tantas famílias encasacadas a ir pelo mesmo caminho até à igreja. Sei que vou parar um segundo no miradouro e maravilhar-me com as luzinhas dos arrabaldes, tão bonito, parece mesmo um presépio, e vou acotovelar todos os que se atravessarem no meu caminho para conseguir um lugar sentada. Sei que vou fazer finca pé e o meu sogro vai amuar porque vai ter de esperar mesmo até ao fim da missa para ir para casa. Talvez já se tenham aberto os presentes, talvez se abram mesmo só à meia-noite. Havemos de voltar para casa cheios de sono e sem poder ver uma migalha à frente. Prometi ao Biscoito ficar com ele na cozinha, os dois acordados à espera de ver o Pai Natal entrar pela chaminé. Já tenho as bolachas de aveia.

22/12/2009

Ranho, otites e outras tosses

Estou altamente constipada. O Biscoito está altamente tússico e o Outro Biscoito tem uma otite. O cão está bem de saúde, obrigada e o pai também não me parece nada mal fora uma ou outra fungadela.
Ontem chegou um cabrito inteiro lá a casa. Bem a calhar, principalmente depois de descobrir que o bacalhau inteiro de lombos altíssimos, reservado para o Natal, fora deitado para o lixo por uma alma caridosa que acreditava que o bicho estivesse podre. Entretanto as couves também estão encomentadas e o quilo e meio de batatinhas para assar também. Espero que o forno aguente, porque vou passar o dia 26 inteiro a cozinhar. Isto tudo porque vou andar a comer em casas alheias durante dois dias e depois vem o fim de semana e eu quero é descanso até segunda.
Todos os presentes estão embrulhados e etiquetados, só me falta mesmo é o pacote de bolachas de aveia para o Pai Natal. Está quase.

17/12/2009

Postal de Natal






Estas duas criaturas de deus estão a despir-se. Presumimos que se venham a deitar um com o outro à sombra da nespereira. Como só há nêsperas no verão, presumimos também que esteja calor e que o sol brilhe.

Eu gosto de me despir e deitar à sombra das àrvores. Gosto de ver as nuvens passar por entre as folhas da copa (uma ameixeira neste meu caso) e ficar ali à espera de me fartar.

15/12/2009

O homem era um génio


Assim, sem nada feito e o por fazer
Mal pensado, ou sonhado sem pensar,
Vejo os meus dias nulos decorrer,
E o cansaço de nada me aumentar.
Perdura, sim, como uma mocidade
Que a si mesma se sobrevive, a esperança,
Mas a mesma esperança o tédio invade,
E a mesma falsa mocidade cansa.
Tênue passar das horas sem proveito,
Leve correr dos dias sem ação,
Como a quem com saúde jaz no leito
Ou quem sempre se atrasa sem razão.
Vadio sem andar, meu ser inerte
Contempla-me, que esqueço de querer,
E a tarde exterior seu tédio verte
Sobre quem nada fez e nada quere.
Inútil vida, posta a um canto e ida
Sem que alguém nela fosse, nau sem mar,
Obra solentemente por ser lida,
Ah, deixem-se sonhar sem esperar!

14/12/2009

Festas de Natal

Começou a época das festas de natal, dos circos e dos presentes. Num papel de embrulho li que só trinchava o perú no horário de Tóquio. Parece-me bem. Volta e meia também me apetece uma coisa dessas. Talvez um dia fuja ao Natal em família e desapareça com a minha para uma pousada qualquer, no meio da serra, cheia de neve e vento e o uivo de lobos à noite. Quero ir para fora cá dentro e trocar um único presente com os meus homens no calor de uma lareira emprestada. Já só faltam mais três festas e depois estamos despachados. Provavelmente afogados em papel de embrulho.

11/12/2009

Feito á mão

Chegou finalmente o grande calendário do advento encomendado à Rita. O Biscoito não resiste e já mudou os doces de bolso mais vezes que aqueles que comeu. É demasiada emoção, tantos docinhos e surpresinhas enfiados em quadrados tão deliciosos. As meias de lã já estão bordadas e penduradas nas portas e o presépio montado com musgo junto à àrvore de Natal.
Ontem fomos ver O Pai Natal e o Biscoito, ao colo do simpático velhinho, puxou-lhe discretamente as barbas a confirmar que eram verdadeiras. Prometeu que se ía portar bem e perguntou onde estavam as renas. O Pai Natal pediu-lhe que deixasse leite morno e uma bolacha de aveia na chaminé, mas que isso das renas era um segredo dele. Na volta de carro o Biscoito estava muito preocupado por não haver nenhuma bolacha de aveia em casa.
Adoro o Natal.

09/12/2009

Ana

Chego a casa da eslava com os filhos cheios de bolinhos de côco. Ela levanta-se, muito cerimoniosa e visivelmente feliz em nos receber. Uma visita. Faz café e convida-me para um cigarro. Agradeço quero sim, obrigada. Sinto-me à vontade, sem grandes cerimónias e entramos na cozinha. Tudo limpo. Impecável. Parece-me que vejo o meu reflexo nos azulejos brancos. A casa é igual à minha, o mesmo tamanho, as mesmas divisões, a mesma vista para o palácio no jardim da rua de cima.A minha casa é um caos ao pé da dela. Gosta de plantas, todas verdes e exuberantes, a contrastar com a timidez dos meus três potes de heras e orquídias raquíticas. Bebemos e fumamos enquanto ela vai falando. Fala do filho mais novo, do trabalho, de como gosta de Portugal e das laranjas. Pergunto-lhe o que fazia na terra dela. Percebi que era qualquer coisa entre contabilista e engenheira agrónoma. Aqui trabalha a dias e ganha mais do que eu. Fala quatro línguas diferentes e conhece a Europa quase toda. É uma mulher esclarecida. Não lhe pergunto pelo marido porque não quero saber se foi morto durante a ditadura, refugiado político, qualquer desgraça assim. Digo-lhe que os meus sogros têm laranjeiras e um limoeiro e que também os acho bonitos. Ela gosta de conversar, de estar ali de perna cruzada a fumar um cigarro. O filho dela é o melhor aluno da escola e quando for grande quer ser criminalista forense. Os olhos azuis dela brilham como àgua quando fala do filho. Está convencida de que um dia vai ganhar o euromilhões. Já somos duas.

03/12/2009

Tempo de menos

Dou por mim a adormecer ao computador. Aborreço-me de morte.
Queria voltar ao fim de semana passado e tirar tempo para fazer o que ficou pendurado no horizonte das esperanças de um futuro próximo. Queria ter mais tempo para mim, para ti, para nós. Estou a precisar de férias e abençôo este Natal que calha numa sexta feira. O sweet day of nothing doing é num sábado. Só espero que esteja tudo fechado para eu não ter ideia de fazer mais nada senão olhar para os nossos filhos e ver-me feliz.