Ontem vim trabalhar. Eu e mais meia dúzia de gatos pingados prescindimos do nosso merecido descanso celebrativo de um regime democrático (demos -kratos) e viemos responder às questões aflitas dos nossos fornecedores europeus que, na esmagadora maioria, são de países monárquicos e por isso não entendem porque deve num país ser feriado nacional por uma revoluçãozeca carbonária-anarquista.
Voltei para casa ciente de que a minha entidade patronal seguiria os direitos dos trabalhadores inscritos na nossa tão querida constituição comunista pós 25 de abril, já a pensar nos quatro euros e pouco multiplicados por oito longas e penosas horas de trabalho que receberei a mais no próximo mês.
De noite, já com os meus queridos Biscoitos na cama, meio deitada no sofá, de camisa de noite e caixa de bombons Fauchon no colo(para mim só o melhor), zappava entre um canal e outro para ver afinal o que de bom nos trouxe a revolução de 1910. Ouvi atentamente a opinião do Fernando Rosas em dois canais diferentes e de outras tantas figuras ilustres da historiografia política nacional e cheguei a uma iluminada conclusão:
A República trouxe-nos a responsabilidade e o sentimento de culpa de sermos nós a escolher o nosso representante, a grande maioria das vezes um ilustre desconhecido no plano internacional.
A Monarquia faria bem mais sentido nesse aspecto, tanto que os nobres reis dos nossos vizinhos europeus são todos primos uns dos outros e, claro está, conhecem-se desde sempre.
Assim, se o nosso chefe de estado republicano recebe ou é recebido por outro chefe de estado monárquico, não será tão fácil encetar conversa nem trocar favores, como o seria e decerto será entre primos.
- Olha lá, ó Juan Carlitos, não achas que os etarras que nós apanhámos junto à fronteira com um carro cheio de explosivos deviam ficar por cá mesmo? Ninguém quer saber do País Basco para nada cá no nosso país, e é sempre uma chatice depois andarem a dizer que fomos nós os responsáveis pela prisão perpétua e torturas daqueles independentistas...
- ó Duarte, é pá que olha que não sei, vamos para ali conversar, passa-me aí o doce de morango, talvez se a tua Isabelinha puxar uns cordelinho na Cruz Vermelha a gente até se consiga entender. É que eu preciso de umas ambulâncias para o Afeganistão...
E assim por diante com um chá e scones pelo meio.
Eu não sou monárquica. Arrepia-me a ideia de ter um atrasado mental escolhido por Deus como representante máximo do nosso país e termos de o aguentar até ele morrer e depois aguentar com crises dinásticas, porque o atraso mental não faz filhos e depois é uma chatice para escolher descendente.
Mas agora sem o poder de dissolução do governo, talvez até nem fosse tão má ideia. Afinal, um Presidente da República é só para inglês ver, não é? Porque não um Rei? Lá está, um primo afastado da Elisabeth.