16/03/2012

Nuvem cinzenta

É como se fosse uma nuvem perpetuamente pairando sobre a minha cabeça, envolvendo-me o cérebro de um frio de gelar ossos. Uma nuvem cinzenta que vai escurecendo a partir das agressões que a pele deixa que entrem pelos poros. Uma indelicadeza aqui, um insulto ali, uma cara menos sorridente. Meses de sono em atraso, o meu corpo disforme, a ansiedade do regresso ao trabalho, as dores de cabeça e a loucura das sete da tarde elevada a três. Os banhos, os jantares, as birras, os cocós e os ranhos, os trabalhos de casa e o telefone que toca quando eu não posso atender, o cão a ladrar sempre que ouve o elevador a funcionar, a minha cabeça a explodir. Eu choro com a faca da cozinha na mão, tento controlar dois selvagens com gritos e ameaças, tento ignorar o choro do bebé que se entranha no cérebro e ressoa como uma trovoada. A nuvem cinzenta carregada, os ventos ciclónicos a extravasar da caixa craniana. E assim nasce a tempestade.

O arco-íris no fim do temporal promete sempre um amanhã melhor.