23/04/2007

Vovó


A minha avó é o máximo. Entusiasmada com o passeio matinal no Chiado, não resistiu a tocar no cavaquinho do Biscoito em plena pastelaria só para agradar ao pequeno.
"Eu gosto muito de tocar pim perlim pim pim, eu gosto muito de cantar pim perlim pim pim". O Biscoito delirou e eu achei a minha avó maravilhosa. Não fazia ideia que ela soubesse tocar cavaquinhos de brinquedo!

O Biscoito adorou a viola de brinquedo. Fizémos uma orquestra com pífaros e pandeiretas e cada um tocou os intrumentos à vez. É reconfortante saber que os brinquedos tradicionais continuam a entreter os filhos de hoje.

p.s- Na rua Anchieta encontrei uma reedição do Manifesto Anti-Dantas. Não fora o prólogo assinado por sua sumidade o então presidente da CML, o Dr. Santana Lopes, até o tinha comprado. Mas neste caso, resisti.
PIM!

17/04/2007

Rudyard Kipling


Apesar de o poema If (trad. Se) não fazer parte d'O Livro da Selva, parece mesmo que foi escrito para o Tumai dos Elefantes. Impressiono-me sempre que me olho ao espelho e me vejo com esta idade. Dentro de mim, tenho sempre dez anos e vivo no tempo das histórias que leio.

IF you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:
If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:
If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: 'Hold on!'
If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with Kings - nor lose the common touch,
if neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
f you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!

16/04/2007

Teu


O meu coração é todo teu. E tudo o demais também.

14/04/2007

2!


Há dois anos, o Biscoito era assim. Pequenino pequenino!

Eu fui mãe, e a minha mãe avó. Viva o Biscoito, viva! Pim!

Sexta-feira 13


é nisto que dá.

11/04/2007

Mattosão


Ontem li um artigo na Única (7 de Abril) sobre 0 Professor José Mattoso. O homem-bíblia de História Medieval, carinhosamente chamado O Mattosão desde o primeiro ano da faculdade, ei-lo que tornava para me assombrar as noites antes dos exames.
Os exames já lá vão, mas confesso que tenho saudades. Devo pertencer a uma minoria perdida nos confins das bibliotecas, que reclamava por não ficarem abertas mais horas, que raio, assim não consiguia ler tudo o que queria. Sempre gostei de ler Mattoso. Escreve bem, serve de referência a qualquer outro medievalista que se preze e eu acabava por lá ter de me levantar e ir buscar a Identificação de um país. Ensaio sobre as origens de Portugal, 1096-1325 (2 vols.Lisboa: Estampa, 1985 - 1986), ou o básico Ricos-Homens, infanções e cavaleiros. A nobreza medieval portuguesa nos sécs. XI e XII (2ª edição Lisboa: Guimarães Editores, 1985), ou até o Portugal medieval. Novas interpretações (Lisboa: IN-CM, 1985). Foi assim que desapareceram todas as minhas dúvidas mais secretas no que respeitava à história do meu país, surgiram outras, e me pasmei por uma simples letrinha* mal interpretada num arquivo poder levantar questões que dividiam catedrádicos durante gerações sucessivas, pois poucos escreviam, e os que o faziam nunca escreviam da mesma maneira duas vezes seguidas.
Então resolvi especializar-me em Paleografia, e decifrar gatafunhos com mais de quinhentos anos para coisas destas não acontecerem mais. Acabei sobretudo a saber distinguir a letra de um religioso da de um administrativo, e que ao longo dos tempos, as repartições de finanças e os notários públicos não sofreram modificações tão profundas quanto isso. Não fosse o enjôo provocado pela rodagem dos microfilmes e a alergia crónica ao pó, juro que acamparia na Torre do Tombo. Desventuras.
Mas o que mais me impressionou na entrevista, mais do que a ideia que tenho do Professor José Mattoso, o ex-beneditino, o ex tudo e mais alguma coisa que um historiador pode almejar ser, foi o homem. O homem velho, que espera a morte. O homem velho que se desapega das coisas, excepto dos livros. Os livros que armazenam toda a memória, tudo o que leu, escreveu. A quietude da leitura. O prazer solitário. O silêncio. A essência das coisas, dele próprio, diz, apreende-se melhor no silêncio. Há que aprender com ele, com o silêncio das suas palavras impressas. E deixar o espírito viajar mais depressa.

*Esta questão prende-se com a chamada problemática do ermamento durante a reconquista cristã da Península Ibérica. Se interpretarmos a palavra em questão como ermamento, somos forçados a admitir que as populações critãs resistentes no norte da Península criaram um vazio territorial, que impediu os muçulmanos de avançar por não encontrarem as infra-estruturas sociais e materiais necessárias à sua implantação no local - por isso é que o Allambra é no sul e não no norte; se por outro lado, a interpretarmos como armamento, admitimos a possibilidade de as populações cristãs terem formado uma cintura bélica que serviu de travão à total islamização da península. Leiam e descubram o que o Mattoso pensa disso.