15/09/2016

Viver perigosamente

Viver perigosamente é achar que duas fraldas são suficientes até as compras chegarem.

09/09/2016

Cuidados Intermédios

O Biscoito n°4 recuperou bem. Era o Golias da UCERN, no meio daqueles ratinhos todos, uns já veteranos de 70 dias, outros acabados de chegar.
Do outro lado do vidro fosco, os fios dos aparelhos que monitorizam os internos dos Cuidados Intensivos. De vez em quando um bip mais estridente e os passos apressados das enfermeiras. Mas já não era nada connosco, era todo outro mundo, do outro lado do vidro fosco.
Do lado de cá, risos de adultos e choro de bebés. Os melhores sons do mundo para os nosso ouvidos. Os bebés já com nome próprio, escrito a seguir ao apelido das mães, nas etiquetas por cima das encubadoras.
Eu já podia fazer festas no meu biscoitinho. Depois, já podia pegar nele. Uns dias depois, passaram-no para o berço e já pôde mamar. Depois tiraram-lhe a sonda e assim que eu tive alta, montei acampamento ao lado dele. Mais tarde, as enfermeiras convenceram-me a ir dormir a casa. E eu fui.
Só quando me deitei é que percebi o quanto etava cansada e dorida. Os meus pés pareciam patas de elefante, as minhas costas estavam dormentes. A cabeça latejava até aos maxilares. Mas eu estava descansada. Uns dias depois, fomos mandados para casa com o bebé mais precioso do mundo ao colo.

O nome

Os bebés da UCI não têm nome próprio. São identificados pelo último apelido da mãe.
Há bips e pis constantes, numa orquestra desconcertada de tubos de ventilação, sondas gástricas e muitos monitores cardíacos.
Há pais que se colam às paredes das encubadoras e só descolam quando o corpo deixa de suportar aquela desconfortável posição. Há mães que cantam baixinho para o plexiglas, outras que sorriem quando o bebé minúsculo que ali termina o seu crescimento se move. Mas há sobretudo os que choram em silêncio.