23/04/2017

Mulheres e homens

Estava a passar os olhos pela imprensa nacional, quando parei a ler um artigo que me despertou a atenção. Fala da falta de desejo sexual causado pelo uso da pílula contraceptiva. Mais ainda, sugere, num parágrafo pequenino, que os métodos contraceptivos das mulheres são muito mais invasivos que os dos homens. Ainda bem que alguém fala nisso, aliás, ainda bem que alguém fala na queda vertiginosa do desejo sexual que a pílula causa.
Como mãe de quatro filhos, toda a gente, mas toda a gente mesmo se acha no direito de opinar acerca do método contraceptivo que eu deveria usar. A minha sogra, querida e bem intencionada, até sugeriu que eu devesse "tratar desse problema". Isso mesmo, problema, referindo-se  à minha propensão para engravidar. O meu pai fez bullying intensivo ao meu marido para o convencer a fazer uma vasectomia e a minha mãe teve uma conversa muito franca comigo onde exprimiu a opinião de que devíamos passar a dormir em camas separadas ou mesmo em quartos separados. Para além disto tudo, há sempre piadas sobre equipas de futebol e estar à espera da menina.
A verdade é que nunca pensei em fazer uma laqueação de trompas, são extremamente invasivas e têm complicações que eu preferia evitar, tais como a anestesia geral, as cólicas por bolsas de ar abdominal, infecções, etc. A fazer qualquer coisa de definitivo, passo sempre a batata quente para o meu marido. Ele que se decida a fazer uma vasectomia, muito mais simples e eficaz e muito menos invasiva, com anestesia local, logo, com muito menos riscos.
Dormir em camas separadas não evita coisa nenhuma. O meu marido dorme mais vezes no sofá ou na cama de um dos miúdos do que comigo. Ou porque adormeceu enquanto via um filme, ou porque um dos rapazes teve um sonho mau ou está doente, ou porque o bebé ou mesmo um crescido estão a dormir comigo na nossa cama. Por isso aconselho sempre aos recém casados ou recém pais, camas largas e sofás confortáveis. No meio disto tudo, pim, quatro filhos. Dormir separado não é de todo impedimento. Se eu lhe contasse, ela não ía gostar, mas é verdade.
Durante muitos anos, usei preservativo. Como não tomava a pílula, era a única alternativa, ou isso ou a abstinência. Acho que era a única pessoa do meu universo que não a tomava. A minha mãe levou-me uma vez ao ginecologista e eu saí de lá com uma caixa de pílulas, mas uma semana depois sentia as pernas pesadas, por isso parei. No meio dos filhos, fui experimentando métodos contraceptivos diversos, uma pílula de baixa dosagem funcionou comigo, mas eu esquecia-me de a tomar. O método do calendário continuava a ser o preferido, mas as menstruações causavam-me anemia, por isso, uns quantos filhos depois, tentei um implante anticoncepcional, com o qual me dei muito bem, muito embora as menstruações fossem mínimas, mas muito prolongadas, o que não ajudava à anemia.
Hoje tomo a pílula, que comecei a tomar mal o meu quarto filho nasceu, e faço como muitas raparigas sempre fizeram, tomar a pílula seguida, sem intervalos.
Ainda estou para saber se não será essa uma das grandes causas para a dificuldade que as mulheres sentem em engravidar, o tomar a pílula durante tantos anos sem dar hipótese às células do útero de se renovarem, mas faltam estudos.
Mas o que eu gostei mais no artigo foi mesmo a menção à falta de líbido. Eu noto isso. O meu marido nota isso, e nem tudo se pode desculpar com o cansaço e falta de sono que um recém nascido causa. É da pílula, mesmo, confirmei com algumas amigas, elas dizem exactamente o mesmo. Se eu tivesse passado a minha juventude a tomar a pílula, com menos líbio, teria sido diferente? Só posso presumir que sim.