26/11/2008

Vizinhança

Há vizinhos assim e vizinhos assado. Há os que passam por nós nas escadas, bom dia boa tarde e é tudo, há os que nos seguram a porta para passarmos com os sacos das compras e há os que da janela nos vêem a procurar a chave e carregam no trinco para a porta abrir. Os meus vizinhos são assim, estes últimos.
São dos que tomam conta dos Biscoitos por um instante enquanto eu vou com o cão à rua, são dos que nos convidam para provar aquele bolo especial, para ver o quadro que acabaram de pintar, que acham graça às rosnadelas da Sutra e não se incomodam nada com os berros dos miúdos, dos que nos perguntam se estamos melhor da constipação, se a entrevista correu bem. Dos que se queixam à porteira que a Sutra fez xixi no tapete, mas que não faz mal, coitadinha, ainda é cachorra, dos que apanham as molas que o Biscoito atira lá para baixo e mas entregam na primeira oportunidade, dos que deixam os miúdos brincar juntos em vez de dormirem a sesta.
Eu gosto destes meus vizinhos, tão diferentes, tão humanos, tão amáveis. Fazia-me falta uma vizinhança assim. Vizinhos a sério. Solidariedade de vão de escada. Tivesse eu quintal, haveria de fazer um churrasco de Natal com todos eles.

17/11/2008

Happy Mondays

Eu não tenho mau acordar. Nem sequer fico de mau humor por me levantar antes do sol nascer para tapar um, pôr a chucha ao outro e ir com a bicha à rua. Eu não tenho mau acordar. Só que quando todos acordam oficialmente, eu já estou de olho aberto à mais de uma hora, já vou na segunda chávena de café e acabou-se-me o sossego.
Acabou-se o olhar pela janela e ouvir os passarinhos. Acabou-se o comer torradas a meias com a cadela. Acabou-se o será que ainda consigo uns minutos enrolada no edredão antes de todos acordarem. Acabou-se o tempo para me pentear e arranjar as sobrancelhas sossegada.
Começa o bom dia mãe tenho fome quero sumo, o choro de fralda suja e o biberão para fazer, a cadela que quer ir outra vez à rua e um marido que grunhe um bom dia (com sorte) antes de se fechar na casa de banho. Depois é um corropio do outro mundo, uma troca de palavras mal dada e uma combinação mal feita do quem é que vai buscar o Biscoito à escola, leva o lixo, olha a reciclagem, o que é que queres para o jantar.
Um leite entornado, um bebé bolsado e uma cadela a roubar o pão com marmelada de cima da mesa enquanto eu procuro a esfregona. Muda-se a roupa ao mais novo (ora bolas, não me digas que a camisola está a lavar), enfia-se uma roupa quase limpa ao mais velho (só vais de cavaleiro se vestires a camisola), o cão que roeu o único par de sapatos que ainda serve (eu depois compro-te outros, deixa ver, pronto, agora estão iguais) e quando finalmente enfio todos no carro com um queque comprado à pressa na mercearia do lado, cão incuído, reparo que me esqueci do lenço, de me pentear e de lavar os dentes. Isto tudo com guinchos dos dois Biscoitos, um porque a Sutra quer comer o queque, outro eu não quero nem saber porquê. Só espero que haja trânsito, um trânsito infernal, para ficarem todos sentadinhos nos seus lugares montes de tempo e eu poder respirar.
Ajeito o cabelo o melhor possível, procuro uma pastilha elástica e reparo que vesti as calças sujas e pus as limpas a lavar. Menos mal, não tenho nódoas na camisola. Chego ao colégio, deixo os Biscoitos e vou para o carro enrolar um cigarro enquanto o cão passeia e faz xixi nas rodas dos carros. Finalmente, um minuto só para mim.
Apago a beata, meto o cão no carro e vou buscar o Outro Biscoito que ainda não fica no colégio mas que eu deixo no berçário enquanto vou levar o Biscoito à sala dele. Volto para casa e olho desconsolada para o frigorífico quase vazio, mas não é hoje que vou às compras. Deixo a sopa a fazer e bebo o resto do café que não consegui beber antes. Daqui a precisamente 23 minutos, o Outro Biscoito acorda para comer.
Respiro. Hoje é segunda-feira. Faltam só mais quatro dias.

07/11/2008

Dentes novos e é preciso morder em alguma coisa


Natal à porta

Oh horror! Oh angústia! Ai que eu ainda não comprei os presentes de Natal!
Estou terrivelmente atrasada e já estamos em Novembro. Num ano normal, passaria o Verão a comprar os presentes de Natal para toda a família. Mas este ano o Outro Biscoito veio alterar-me os planos e a mudança e o assalto e agora o cão adiam cada vez mais as compras. Sim, compras, que desta vez não tenho tempo de fazer nem personalizar presente nenhum.
Tenho de dar mais uma vista de olhos ao armário dos presentes e ver o que tenho guardado, de certeza que tenho presentes para metade da família e amigos enfiados num caixote à espera de serem embrulhados.
Ah, pois que eu reciclo presentes. Todos bons e novinhos em folha, são reciclados e oferecidos a outras pessoas e crianças no Natal seguinte e nos aniversários.
Assim já foram feitas muitas crianças felizes e poupados imensos euros.

Este ano nem sei como vai ser. Não me apetece ir às compras. Ando a adiar o mais possível, mas o fim do mês está quase a chegar e eu não faço compras em Dezembro, que é tarefa titânica atravessar mares de gente com cão e Biscoitos ao colo e aos pulos e a chorar e com fome e eu aflita para ir à casa de banho e a senhora à minha frente que nunca mais se despacha, vá lá, senhora, leve o papel e embrulhe em casa, mas em que bolso é que eu tenho o cartão, ó Francisco volta aqui imediatamente! sim, é isto tudo, ó Francisco não mexas nisso, querido, que parte, xiuuu, Pedrinho, deixa estar, estamos quase quase, que raio de mulher que não se despacha, olha agora tinha de chamar o supervisor e eu aqui quase a desmaiar de fome e onde está o miúdo que eu não o consigo ver com o bebé ao colo e os sacos e o cartão que não aprece e ufa! já estou cansada só de escrever.
Talvez entre na Unicef e compre tudo de uma assentada. O resto vai corrido a coisas doces.

Na próxima encarnação quero ser como a Fátima Felgueiras. Aposto que essa gaja horrorosa tem sempre alguém que lhe faça as compras de Natal.

05/11/2008

Dentada



O Biscoito foi mordido. Não pela Sutra, mas por um cocker que já o conhece há mais de três anos. Não estou nada contente. Aliás, estou muito muito zangada com o cão. A dona do cão nem deve ter dormido ontem. Não gosto de cockers desde que o meu tio ficou sem a ponta do nariz por causa do cocker dele. Esses cães não são bons com crianças.

Mudando de assunto, gosto muito de passear o cão. A Sutra acorda-me antes do despertador tocar. Dou-lhe de comer e faço o meu café. Saímos para a rua antes do sol nascer e voltamos sem ninguém dar por isso. Ficamos as duas a tomar o resto do pequeno almoço na cozinha até um dos Biscoitos acordar. Temos ido passear o cão para a mata a caminho da escola. Às vezes vamos tão cedo que passeamos uma hora inteira.
Pergunto-me como é que ocupávamos o tempo antes de termos cão.

P.s: Estamos esperançados com os resultados transatlânticos. Acho que a Europa toda também está.