18/05/2009

Francisco, Fátima e Família

Por incrível que pareça, os meus sogros conseguiram convencer-me a ir a Fátima.
Encontrámos os tios todos, que por morarem em várias latitudes, acharam que a Cova da Iria ficava mais ou menos a meio e podíamos encontrar-nos todos. Afinal, ainda ninguém conhecia o Outro Biscoito.
De panela e garrafa de vinho na bagageira, lá fomos nós todos pipocas fazer um piquenique no parque de estacionamento número 13 junto ao Santuário.
Nós e mais seiscentas famílias com os seus piquenos e as respectivas bolas de futebol e panelões de cozido. Nós levávamos rancho, era diferente.
O Outro Biscoito ainda meio atrapalhado com os dentes, tratou de vomitar em cima da única roupa que levava, porque eu, nas pressas, deixara os casacos e as mudas de roupa pendurados na porta, onde os pusera para não me esquecer. Pois esqueci-me e passámos o tempo todo enrolados em mantas, que mais lá para o fim do almoço eram mantas vomitadas.
Entre o frio e a vontade enorme de desaparecer para casa o mais rapidamente possível, fui arrastada para o Santuário, onde o Biscoito às tantas, no meio de um silêncio venerável me pergunta:
-"Chamaste-me?" não, disse eu, porquê? - "Eu ouvi chamar Francisco Maria, foste tu?"
Não, não fora eu nem nignuém. Ninguém falara. Estavam todos em silêncio. Além disso, ninguém chama o Biscoito de Francisco Maria. Nem eu. Arrepiou-me tanta certeza, as palavras tão adultas do meu Biscoito.
Pareceu-me um recuo no tempo. Tanta gente, tão calma e tão sofrida, as velas e os incensos, as flores e o rosário de pétalas de rosa que eu usava ao pescoço para delírio do Ourto Biscoito. As procissões e os estandartes, os brocados dos religiosos, os meninos de joelhos pela mão das mães, uma praça inteira de joelhos e silêncio.
"Quando é que a senhora bonita vem?" - assusto-me. "Ela vem agora?" e o Francisco e a Jacinta a olharem para mim no meio das velas das promessas. Tinha acabado de queimar dez. O Biscoito que também quer andar de joelhos.
A senhora bonita só vem quando quer. Ela é que sabe. Nós trazemos flores e acendemos velinhas.
Eu sobressaltada. O Biscoito fascinado.
A viajem de volta correu bem Foi bom voltar a casa.

09/05/2009

Expressionismo e Expressionismo Abstracto


La Table de l'architecte, 1977
Colagem, acrílico e objectos sobre tela
100 x 100 cm
Colecção Fundação Júlio Pomar, Lisboa

Tenho andado às voltas coma exposição de pinturas do meu emprego.
Embora o Monet me tenha calhado na rifa, consegui substituir a Lempicka pelo Júlio Pomar, que vai muito mais de encontro aos meus gostos pessoais. Não que não goste de Art Nouveau nem encontre um certo fascínio estético nas obras de Lempicka, mas foge-me sempre a imaginação para o Cubismo de Amadeo de Souza Cardoso e para as rectas convergentes do Almada Negreiros. Pelo sim, pelo não, um certo erotismo calha sempre bem.
Infelizmente, as imagens disponíveis na net são demasiado eróticas e não me coíbo de uma certa auto-censura num dos meus quadros preferidos: La table de l'architecte. Decido guardar essa imagem só para mim e escolho outros menos dúbios.
De qualquer forma, estou a gostar e é uma agradável aragem na minha rotina laboral. Sinto o meu cérebro de novo a trabalhar e isso faz-me feliz. O facto de podermos tirar tempo ao nosso horário de trabalho para tratar da exposição é optimo. Faz-nos voltar para as facturas perdidas com outro ânimo "Ah, não lhe pagaram? Pois, a factura não está cá, temos pena, mande outra vez" em vez de ficarmos mudos a olhara para o vazio onde devia estar uma factura paga.
Viva a Arte. Qualquer dia pego outra vez no mestrado...

05/05/2009

Olá Amigos...

"Olá Amigos..." e todo um mundo se abria diante dos meus olhos.
Passei a minha infância a conhecer animações que ainda hoje me moldam os gostos, que raras vezes revejo e reconheço, sempre ligadas à mesma cara.
"Olá Amigos..." e corro o youtube à procura dos mesmos filmes para mostrar ao Biscoito.
Estive uma vez no país dos desenhos animados do Vasco Granja, que já não era a Checoslováquia da altura. Mesmo com tanta História a debruçar-se sobre mim, a neve pelos joelhos fez-me lembrar uma animação a carvão que mostrava a certa altura um menino a enterrar os pés na neve.
Adeus Vasco Granja, deixas saudades.