31/07/2008

É por esta e por outras...


"Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã/
Escuto a correria da cidade que arde
E apressa o dia de amanhã/
De madrugada a gente ainda se ama
E a fábrica começa a buzinar/
O trânsito contorna a nossa cama, reclama
Do nosso eterno espreguiçar/
No colo da bebida companheira
No corpo do bendito violão/
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação/
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer/
Escuto a correria da cidade, que alarde
Será que é tão difícil amanhecer?/
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã/
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã"

...que eu tenho imensa pena se não saber tocar violão.

E pensar que os meus filhos adormecem a ouvir tais obscenidades.

25/07/2008

De férias

(foto que falta)

Estamos de férias. Quer isto dizer, o pai não está ainda de férias e o Biscoito tem saltitado de avós em avós. Eu e o Outro Biscoito lá vamos passando uns dias aqui e ali, mas quando a saudade apertou mais, aterrámos de malas e fraldas em Azeitão, deixando o pai sozinho em casa com os computadores e a Bimby "raptada" à avó. Mas já apareceu por cá. Devia ter fome.

Nos entretantos, e como o tempo está perfeito para quem não pode ir à praia, chapinhamos na piscina de borracha, adormecemos na rede, salvamos borrachos caídos do ninho, vamos ver patos e castelos com dragões, e depois lanchamos tortas e queijadas de Azeitão.

Ontem, enquanto adormecia o mais novo na rede e o mais velho saltitava pelo jardim com um carrinho em cada mão, lembrei-me que tinha chegado aos 30 e era mãe de dois belos rapazes. Tal como eu queria. E sorri. Parece-me que a felicidade tem sempre uma cor dourada. Talvez seja dos pores-do-sol em Ferragudo ou da luz a bater na caruma dos pinheiros, mas a verdade é que a hora do gin é sempre dada a este tipo de introspecções. Curiosamente, sempre felizes.

01/07/2008

S. Pedro


Domingo baptizámos o Outro Biscoito. Como vem sendo tradição na família*, o rebento foi baptizado no dia do santo do seu nome. Correu tudo ao lado.
Infelizmente, os bebés de 14 dias não percebem que têm de adiar a mamada para dali a uma hora, senão chegam atrasados ao festejo, nem os irmãos de três anos percebem que não podem deixar os pais adormecer profundamente no sofá. Felizmente, os sinos da igreja tocam tão alto que eu abri o olho mesmo a tempo de dar meia mamada ao mais novo, pentear o mais velho e apagar o lume onde derretia uma cafeteira calcinada de tanto tempo a aquecer a fogo brando. Valha-me a minha experiência de hôtesse d'accueil, que me permitiu maquilhar-me perfeitamente em dois segundos, enfiar os dois biscoitos no carro e fazer um sprint até casa da avó quando faltavam precisamente dez minutos para a missa começar. O pais ficou no duche e foi a pé.
Lá chegamos, ainda a vestir o Outro Biscoito pelo caminho e com uma manga toda bolsada, atrasados, mas chegámos. Ufa!
Uma vez imersos na luz dourada que reflectia do altar barroco, rodeados de Nossas Senhoras a parir Meninos-Deus de azulejo setecentista, os dois pimpolhos mais velhos (o Biscoito e o Bias) resolveram entreter-se a treinar equilibrismo no varão do assento do coro enquanto chuchavam alegremente as cabeças de dois peter-pans, capitães-gancho, sininhos e crocodilos e os cuspiam para cima do órgão. Lindo. Eu e a minha comadre ríamos à socapa, os pais suspiravam e os avós olhavam distraídamente para outro lado qualquer. Juro que toda a gente sufocou o riso quando os dois resolveram começar a jogar a apanhada no altar. Vá lá que o Outro Biscoito se portou lindamente e acho que adormeceu profundamente assim que sentiu a àgua benta a descer-lhe pela nuca.


Entretanto, os outros dois passaram o almoço impossíveis de aturar, encheram o Outro Biscoito de beijos e migalhas e enfiaram-se no rego do lago dos patos. Aí a festa acabou e cada um foi para sua casa enfiar o respectivo filho na banheira. O Outro Biscoito dormia profundamente com a barriga cheia de leite.
Uns santos, estes meus filhos.

*Parece-me que temos vindo a iniciar muitas tradições familiares novas, como as celebrações nas vésperas, os baptizados nos dias dos santos, acampamento em Alcácer do Sal em setembro, entre outras preciosidades.