29/01/2015

Um mês e duas exposições

Neste vale de lágrimas e 7 mil milhões de outros são as duas exposições que visitei este mês e que eu não vou esquecer tão cedo.
São duas visões do mundo e da vida situadas em pólos diâmetralmente opostos do expectro emocional.
Num, como se vivia e o que se esperava da I Guerra Mundial. Noutro, aquilo que cada um de nós pensa e espera desta vida e deste mundo.

No Portugal de 1917, 18 e 19, hordas de rapazes descalços e iletrados, com fome de comida e de outros lugares melhores, eram despejados em França para defenderem o status quo da sua pátria amada na guerra que iria acabar com todas as guerras.  Enquanto isso, as mães e as mulheres ficavam em casa a continuar a sua vida por vezes miserável e a encher a barriga dos filhos de rosários e de fé no Paraíso.
Nas trincheiras, os meninos de sua mãe morriam de balas e de difteria. Os que conseguiam voltar, vinham mudados, com a inocência completamente perdida. Restava-lhes a fé e a preocupação de ter o suficiente para dar aos filhos. Deus provém, diziam, nesse amanhã incerto, Deus dará e aos meus filhos nada faltará. Isso se não morressem de bechigas nem de tuberculose antes da adolescência.

Noutro tempo e em todo o lado, a mesma preocupação, a de ter o suficiente para dar aos filhos, a de os manter vivos e ensinar-lhes tudo o que se puder para eles serem sempre melhores que nós aqui, hoje. O nosso passado e as nossas histórias, os medos, os traumas, mas sobretudo as nossas alegrias e a nossa fé inabalável num Amanhã melhor. A certeza da nossa própria importância na construção do nosso futuro.

Saí de cada uma delas a pensar exatamente que é obrigação minha a de ser eu própria e a de criar os meus filhos para serem bons. De lhes dar todas as condições para ser pessoas independentes que possam escolher aquilo que pensam ser o melhor para eles e para as suas famílias.
Deus provém, Deus dará. Amanhã será melhor.

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