23/12/2009

Coisas de mãe e filho

O meu Natal começa amanhã. Vai correr tudo bem. Vou deixar a roupa dos miúdos já pronta para o pai os vestir a preceito. Vou saír mais cedo do trabalho e vou para casa passear o cão. Vou ligar à minha sogra a perguntar pelos miúdos, se passaram todos bem e dizer-lhe que estou a arranjar-me mas que já irei ter com ela e que não me esqueço de levar as couves para a consoada. Vou fumar um cigarro e vou voltar para casa onde vou tomar um banho decente e pouco amigo do ambiente, arranjar as unhas e pentear o cabelo. Vou vestir roupa lavada e maquilhar-me, talvez até pinte os lábios. Eu, o cão, as couves e os presentes vamos subir rua acima e chegar a casa da minha sogra, pôr o avental e começar a fritar rabanadas, se é que a a santa senhora não deixou já tudo preparado de vépera. Iremos falar de banalidades e ela vai de certeza absoluta perguntar-me se o meu marido irá à missa. Claro que não, há-de ficar em casa com a desculpa dos miúdos, mas o mais velho, se não estiver a dormir, irá comigo e com ela beijar os pés do menino jesus. Vou fazer um esforço enorme para não adormecer antes do jantar e juro que hei-de comer uma tijela de arroz-doce sem fazer caretas. Vou bendizer a missa do galo, que bom que será sair à rua para apanhar ar e ver tantas famílias encasacadas a ir pelo mesmo caminho até à igreja. Sei que vou parar um segundo no miradouro e maravilhar-me com as luzinhas dos arrabaldes, tão bonito, parece mesmo um presépio, e vou acotovelar todos os que se atravessarem no meu caminho para conseguir um lugar sentada. Sei que vou fazer finca pé e o meu sogro vai amuar porque vai ter de esperar mesmo até ao fim da missa para ir para casa. Talvez já se tenham aberto os presentes, talvez se abram mesmo só à meia-noite. Havemos de voltar para casa cheios de sono e sem poder ver uma migalha à frente. Prometi ao Biscoito ficar com ele na cozinha, os dois acordados à espera de ver o Pai Natal entrar pela chaminé. Já tenho as bolachas de aveia.

Sem comentários: