17/11/2008

Happy Mondays

Eu não tenho mau acordar. Nem sequer fico de mau humor por me levantar antes do sol nascer para tapar um, pôr a chucha ao outro e ir com a bicha à rua. Eu não tenho mau acordar. Só que quando todos acordam oficialmente, eu já estou de olho aberto à mais de uma hora, já vou na segunda chávena de café e acabou-se-me o sossego.
Acabou-se o olhar pela janela e ouvir os passarinhos. Acabou-se o comer torradas a meias com a cadela. Acabou-se o será que ainda consigo uns minutos enrolada no edredão antes de todos acordarem. Acabou-se o tempo para me pentear e arranjar as sobrancelhas sossegada.
Começa o bom dia mãe tenho fome quero sumo, o choro de fralda suja e o biberão para fazer, a cadela que quer ir outra vez à rua e um marido que grunhe um bom dia (com sorte) antes de se fechar na casa de banho. Depois é um corropio do outro mundo, uma troca de palavras mal dada e uma combinação mal feita do quem é que vai buscar o Biscoito à escola, leva o lixo, olha a reciclagem, o que é que queres para o jantar.
Um leite entornado, um bebé bolsado e uma cadela a roubar o pão com marmelada de cima da mesa enquanto eu procuro a esfregona. Muda-se a roupa ao mais novo (ora bolas, não me digas que a camisola está a lavar), enfia-se uma roupa quase limpa ao mais velho (só vais de cavaleiro se vestires a camisola), o cão que roeu o único par de sapatos que ainda serve (eu depois compro-te outros, deixa ver, pronto, agora estão iguais) e quando finalmente enfio todos no carro com um queque comprado à pressa na mercearia do lado, cão incuído, reparo que me esqueci do lenço, de me pentear e de lavar os dentes. Isto tudo com guinchos dos dois Biscoitos, um porque a Sutra quer comer o queque, outro eu não quero nem saber porquê. Só espero que haja trânsito, um trânsito infernal, para ficarem todos sentadinhos nos seus lugares montes de tempo e eu poder respirar.
Ajeito o cabelo o melhor possível, procuro uma pastilha elástica e reparo que vesti as calças sujas e pus as limpas a lavar. Menos mal, não tenho nódoas na camisola. Chego ao colégio, deixo os Biscoitos e vou para o carro enrolar um cigarro enquanto o cão passeia e faz xixi nas rodas dos carros. Finalmente, um minuto só para mim.
Apago a beata, meto o cão no carro e vou buscar o Outro Biscoito que ainda não fica no colégio mas que eu deixo no berçário enquanto vou levar o Biscoito à sala dele. Volto para casa e olho desconsolada para o frigorífico quase vazio, mas não é hoje que vou às compras. Deixo a sopa a fazer e bebo o resto do café que não consegui beber antes. Daqui a precisamente 23 minutos, o Outro Biscoito acorda para comer.
Respiro. Hoje é segunda-feira. Faltam só mais quatro dias.

Sem comentários: